terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Saint Etienne - So Tough (US Version) 1993



Ontem pedalei por alguns minutos (até o meu local de trabalho) e percebi nas ruas a interferência causada pelos seres em nossa memória geográfica sentimental. As ruas (parece) se lamentam em Belém. O que era referência para alguns, hoje não passa de um novo estabelecimento ornado com sua enorme cornija cor de abobora ou um simples desencontro de idéias notificadas pelo CREA no decurso das vias. Como disse antes... As ruas parecem suspirar lamentosas... Você percorre pelo corpo de uma avenida sentindo sua atmosfera abstrata repleta de desarmonia e infelicidade. Sinto-me triste pelas ruas hoje...

O tempero que impera no reino das ruas em Belém é o da "confusão" de paradigmas arquitetônicos. Dependendo do local, o processo de desenvolvimento se mostra como uma bela amálgama de períodos históricos diferentes, contudo, com uma idade invadida por viajantes de diversas culturas que insistem em atuar com suas pinceladas peculiares na paisagem já tão afetada. Vejamos bem... As ruas mostram-se a deriva nessas vagas, como botes a deriva em bairros desproporcionais. A rua aprisionada entre casas, vilas, barracos, mansões e kitnets... As ruas estão de mãos dadas a implorarem por suas saídas até uma rodovia que as levem para uma grande estrada cercada de mato em ambos os lados. 

É muito triste encontrar uma rua com seu término em um muro. Existe uma pelas redondezas... Em toda minha existência entrei apenas umas duas vezes na mesma, pois, o que fazer em uma rua com sua conclusão em um muro calcificado? Para piorar conheço apenas um habitante desta rua triste (e se diga de passagem um rapaz deveras estranho). A rua é como um ser vivo. A rua tem o seu processo vital com semelhanças descaradamente humanas: as ruas nascem. São inauguradas. Sofrem de alguns males físicos, sofrem com as intempéries e são dependentes demais umas das outras: você só chega a uma rua através de outra (e vice-versa). As ruas são enfeitadas em dias de festas, trabalham em dias de eleição geral, são obrigadas a permanecerem sempre no mesmo lugar e também despejam o que nós despejamos nelas no esgoto. Quando uma rua apresenta enormes erupções em sua epiderme são preparados paliativos de urgência, porem, se essa rua não esta localizada em uma área de nobre estrato, estendendo-se as pompas de suas vizinhas, sofre como um cidadão menos favorecido (suplicando por um atendimento digno). 

Enfim, sempre na vida das ruas chega um momento crucial: castigadas pelas intempéries, pelas intervenções dos moradores que abusam de suas residências sem qualquer senso, traumatizadas pela ausência de manutenção... As ruas morrem... Para nascerem novas ruas... Aquela rua que você sempre passava no caminho da escola quando criança não é mais a mesma... É apenas uma filha da filha daquela rua registrada em tua quimera pueril. As passagens, alamedas, e ruelas aprenderam o segredo do Pajé revelado ao índio Tibicuera, assim mesmo como se lançam no tempo galgado pela perenidade dos Buendia. Você não percebe que a rua morreu... Ela parece atravessar as décadas sem a ação da "inesperada das gentes".  

As ruas se conhecem entre si, e não estão perdidas no autômato que prende os homens ao efeito do Eterno-Retorno... Elas apenas não podem externar de maneira clara suas experiências, simplesmente lançam suspiros tácitos de um saber languido e perdido entre os brocados do asfalto e as poças de lama. Amanhã (ou daqui a pouco) você vai caminhar por sua rua, a mesma que chora pelo mal gosto de quem mora a sua margem. Do vizinho que tenta imitar a idéia do outro, acabando por construir um tugúrio cheio de berliques e berloques, ação que furta o encanto, transformando a própria energia da rua em algo indecifrável. 



Antes de sair agarre com suas mãos esperançosas "So Tough" do Saint Etienne (um grupo de pop inglês formado por: Bob Stanley, Sarah Cracknell e Pete Wiggs). Essa obra tão britânica e extremamente envolvente vem explorar essa beleza que a rua procura e parece não existir. Escute este álbum e tente perceber a urbanidade volatizada, a doçura em extremo grau. Uma boa marca são as amostras de diálogos que aparecem intercaladas entre as músicas (as fontes originais incluem os filmes: Peeping Tom, Billy Liar, O retrato de Dorian Gray, Lord of the Flies...). Ainda temos um sampler de um riff do Rush ( The Spirit Of Radio, 1980) na canção Conchita Martinez.  A garotinha da belíssima capa é a vocalista Sarah Cracknell em uma foto tirada por seu pai (o que acrescenta um ar tão nostálgico e gostoso a obra). 


Você pode simplesmente dançar com Mario's Café ou se emocionar aconchegado nas lágrimas do Elvis em Hobart Paving (por sinal está chovendo demasiadamente agora)... O disco foi lançado no dia 9 de Março de 1993 (UK), tendo sua reedição lançada no dia 31 de Agosto de 2009, como parte das edições de luxo editadas. 

Pense nas ruas e no seu sofrimento... Tergiversei por demais a respeito do caso das ruas... Esse efeito faz parte do processo que estou vivendo, de repente começo a digredir a respeito dos problemas de certas coisas que parecem não ter sentido... Porem, o sentido não é algo ofertado pelas pessoas as coisas? Então se esse texto estranho não lhe agradar, aproveite as canções, e tente reaver o sentido de algo que tem vida apenas para você. 


Até logo...

Ps: prometo que volto a falar do problema anímico das ruas. 


# Saint Etienne - So Tough (US Version) 1993

01 - Mario's Cafe
02 - Railway Jam
03 - Date With Spelman
04 - Calico
05 - Avenue
06 - You're In A Bad Way
07 - Memo To Pricey
08 - Hobart Paving
09 - Leafhound
10 - Clock Milk
11 - Conchita Martinez
12 - No Rainbows For Me
13 - Here Come Clown Feet
14 - Junk The Morgue
15 - Chicken Soup
16 - Join Our Club

DL




quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Jason Lytle - Music Mean To Accompany The Art Of Ron Cameron - 2010




Chegou o momento de adquirir aquele calendário (temas variados) em qualquer estabelecimento próximo de casa. Comprar  (ou ganhar) uma agenda no armarinho da esquina. Aqui em casa ainda não temos um calendário (muito menos uma agenda) deste ano criança, ainda em sua tenra infância: o mês de janeiro. 


O ano começou estranho para mim e também para algumas pessoas queridas com quem partilho minhas horas. 


Contudo, acabei por reunir os pontos citados acima: a ausência da folhinha dos meses em casa, e as certas situações inesperadas no início deste período orbital. Certo, conclui que deveria postar um registro peculiar, fundamental (para quem é fã) e inesperado... Lançado em meio ao turbilhão de outras coisas que na época estavam sendo disponibilizadas por Jason Lytle. Em meados de 2010, Jason Lytle estava lançando uma boa quantidade de material gravado em casa, e liberando de graça essas músicas para quem havia apoiado suas ações durante o ano, adquirindo (comprando) seu disco e participando de suas apresentações, resumindo: ajudando sua irmã que estava doente.

Em meio suas atividades ainda teve tempo para lançar o disco com seu outro projeto intitulado: Admiral Radley. E também, sem qualquer alarde, acabou lançando na maré  Music Meant To Accompany The Art Of Ron Cameron. No momento ele descreveu o álbum como um certo complemento para a arte visual de seu velho companheiro de Skate Ron Cameron. Já outras declarações de Lytle em seu website relatavam uma certa antipatia do músico para com sua obra. Ele definiu as canções como: " Um monte de bosta" ...

A capa ainda revela a obsessão de Lytle e Cameron pelo universo StripMall decadente da moderna Califórnia. 




Resolvi começar o ano com confusão para dar tempo de haver em mãos a minha dose absoluta de dissipação. Eu sei que irão adquirir aquele tom de folhagem outonal a pagina do futuro calendário; contudo, com uma clareza maior do que a bruma que me cerca... Vamos iniciar os trabalhos com confusão para ver se o processo atinge em ventura plena meus minutos, assim, com esse desejo tímido de calmaria e amor verdadeiro. 


# Jason Lytle - Music Mean To Accompany The Art Of Ron Cameron - 2010 


01 Waiting For My Phone To Dry
02 Birds Build Nests In Letters
03 Liquid Hyper Tweeker Energy Drink
04 Lose Weight By Crying! Ask Me How
05 At The Mall In Klamath Falls
06 My Phone Is Still Wet
07 I Love CA (Intersection Vendor En
08 D.U.I. BBQ checkpoint
09 Dismantle_Rebuild
10 Indie Rock Freestyle
11 The Town Where I'm Livin' Now
12 Still Waiting For My Phone To Dry


DL